Sertões! Lucas Moraes relembra paixão por motos e trajetória até carros de rally

Sertões! Lucas Moraes relembra paixão por motos e trajetória até carros de rally

A paixão pelas motos despertou cedo em Lucas Moraes, piloto brasileiro cuja jornada esportiva começou aos quatro anos de idade. Nessa segunda parte da entrevista exclusiva ao Sertões, o bicampeão do Rally do Sertões compartilhou os primeiros passos nesse mundo até os desafios profissionais que moldaram sua carreira. Com determinação e perseverança, Lucas transitou do motocross para os carros de rally superando obstáculos físicos e emocionais para se estabelecer como um dos principais pilotos do cenário nacional e internacional.

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Lucas, campeão do Rally em 2019 [foto acima] e 2022, também mencionou os momentos decisivos que o levaram a se tornar um competidor de destaque no mundo off-road, revelando também sua conexão surpreendente com o ciclismo, uma paixão que se tornou parte integrante de sua preparação para os desafios das trilhas e competições.

Confira a segunda parte da entrevista de Lucas Moares ao Sertões:

Sertões: Você subiu em uma moto pela primeira vez aos quatro anos de idade. Como foi ter esse contato tão cedo e como foram seus passos?

Lucas Moraes: Meu pai e minha mãe sempre me incentivaram muito a fazer esporte, e eu fiz de tudo. Desde futebol de salão, futebol de campo, judô, tênis. Mas, por algum motivo, quando eu só andava de moto nos fins de semana, por algum motivo, eu me sentia bem. A gente ia para o interior. Durante a semana, eram os esportes mais tradicionais. Quando eu subia na moto, eu me sentia bem. Gostava da liberdade, de poder sair, de andar numa pista. E, claro, eu sabia que eu fazia melhor do que um tênis, do que um futebol. Nesses esportes, eu sabia que era totalmente mais um. E aí, eu fui entendendo que se eu quisesse seguir uma carreira de atleta, poderia ser interessante o esporte que eu tenho mais desenvoltura. E a moto era mais nessa linha. Então, eu fui conciliando. Eu ia para a escola durante a semana e no fim de semana andava de moto. E assim eu fui desenvolvendo.

Sertões: E quando começou a ficar sério?

Lucas Moraes: Então, quando eu tinha uns 11, 12 anos, eu treinava duas vezes por semana na região do Serra Azul, que tinha uma pista para treinar, de terça e quinta. Saía da escola, com uma turma, num ônibus. Aquilo foi incrível, porque eu estava andando de moto. Voltava umas oito horas da noite para casa. E aquilo foi que me despertou. A partir desse momento, começou a ficar sério. Aos 13 anos, eu fiz minha primeira corrida num brasileiro, de motocross. Ainda bem amador. Aí fui melhorando, vários aprendizados, vários resultados ruins no começo. Em 2004, com 14 anos, foi um pouco melhor. Em 2005, eu brinco, foi o meu primeiro emprego, que a Suzuki me contratou para ser um piloto de fábrica aqui no Brasil. Não tinha salário, não tinha nada, mas eu recebia as motos pelo menos, que já era uma coisa importante. Duas motos, porque como a gente treina muito as motos, era uma moto no primeiro semestre e outra no segundo. Eu viajava o Brasil inteiro, quase sozinho, com um monte de gente. Legal para caramba conhecer também as regiões. Eu diria que com os 15 anos foi quando eu virei profissional de fato.

Sertões: Como foi a migração para os carros?

Lucas Moraes: Eu tive uma lesão no quadril. Eu não conseguia mais performar no nível que precisava, não conseguia mais treinar. A moto exige muito fisicamente, talvez seja um dos esportes que mais exige fisicamente, você treina todos os dias. É tipo ciclismo, assim, você tem que estar em cima da moto todos os dias. E eu sabia que eu não ia mais conseguir performar naquele ritmo. Então, eu tive que buscar uma outra carreira, foi um momento difícil para mim, porque eu estava com 20, 21 anos, no ápice, estava realmente muito bem, entre os cinco do Brasil, sobrando. Tinha corrido fora, nos Estados Unidos, mas eu tive que optar por parar, porque eu não aguentava mais de dor. Eu já tinha experimentado correr de carro, carro nacionais, nada de carro de fora. Então, eu fiz um teste ou outro, depois de uns dois anos que eu tinha parado de andar de moto. E me apaixonei completamente também pelo esporte. Mas, para ser sincero, eu jamais imaginei virar profissional de rali, porque eu achava até mais distante do que a moto.

Sertões: Como é que você se prepara para uma prova tão longa dessa?

Lucas Moraes: Normalmente, a gente faz ciclos de quatro a seis meses de preparação. Na parte física, é muito tronco, então toda a parte de core, ombro, pescoço, essa é uma caixinha. E a outra é uma caixinha, vamos dizer assim, de mental, de como você estimula a sua cabeça para estar sempre concentrada, porque o difícil, o desafio de uma prova longa de Endurance como o Sertões, é você ter esse foco por um período grande, ainda mais hoje que os carros permitem você andar no mesmo ritmo, os 400 km da Especial. Você tem de estar muito atento, e o navegador também, porque as coisas chegam muito, muito mais rápido com os carros que a gente anda hoje. Então, esse trabalho mental, a gente faz várias estimulações, inclusive com eletroestimulação, a gente busca criar exercícios para estar sempre estimulando o foco. E academia, muita parte de academia, eu uso a bicicleta bastante, apesar de um esporte que exige bastante, mas não tem um impacto como uma corrida, por exemplo, então, para mim, eu me adaptei melhor. Então, uso bastante do ciclismo.

Sertões: Como é que é a sua relação com a bicicleta?

Lucas Moraes: Quando eu corria profissional de moto, eu não tinha problema no quadril. A corrida era a base do meu treino. A bicicleta é uma história engraçada, porque, eu, em 2021, quando eu fui correr o Mundial, é, lá pela primeira vez, pela Toyota, no Mundial, eu estava assistindo o Tour de France. Foi o ano que o [Tadej] Pogačar ganhou. Eu comecei a seguir o fotógrafo dele, pelas fotos. Dois meses depois do Tour de France, esse cara me mandou mensagem, falou ‘olha sou fotógrafo do Pogačar, mas eu amo rali, adoraria fazer uma prova sua, o que que você acha? Vi que você corre no Brasil.’ Ficamos amigos, e eu comecei a pedalar para valer e usar para o meu treino. Agora, a empresa que faz o Dakar é a mesma que faz o Tour de France. Eu acabei ficando muito próximo deles lá, me convidaram agora para ir pro Tour de France.

Sertões: Você pedala muito por dia?

Lucas Moraes: Eu pedalo, não tanto assim, mas eu pedalo uma média de uns 400 km por semana, ajuda bastante a manter a cabeça boa também

Adalto Gomes Filho

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