Entrevista Especial – Fernandinho e o 6Days
Termina uma das mais duras provas de enduro do mundo, o Six Days, que aconteceu entre os dias 14 a 19 de outubro na Espanha. Como vocês acompanharam, a equipe brasileira foi representada por Bruno Crivilin (Honda), Vinícius Calafati (Honda), Patrik Capila (Dyva/Pro Tork) e Joaquim Neto (RPM/Liga de Esportes de Sarzedo), sendo que o jovem João Pedro participou da equipe FIM Latino América na categoria Júnior.
Com dias chuvosos, que tornaram a prova ainda mais desafiadora, a equipe garantiu a 16a. posição no evento, mesmo com pilotos lesionados, com Crivilin (joelho), Calafati (coxa), Joaquim (mão) e o abandono de Capila ainda no inicio da prova. Mas para saber mais sobre o evento, conversamos com o Chefe de Equipe, Fernando Silvestre, que depois de representar a Confederação Brasileira de Motociclismo-CBM no Motocross das Nações, que aconteceu na Inglaterra, partiu direto para a Espanha para chefiar a equipe Brasileira.
Da – O que achou das etapas deste ano do 6Days? Qual foi a mais dura?
A prova deste ano foi um pouco atípica, ela foi mais próxima ao Mundial de Enduro, com especiais muito duras e longas. Penso que eles exageraram um pouco na intensidade das especiais, foi o que todo mundo comentou. Eu também achei, um pouco mais longas, com piso que estraga muito e cansava muito, exigindo que o piloto estivesse acostumado com isso. E acredito que os dois primeiros dias sem dúvida nenhuma, foram os mais duros para todo mundo, todos tomaram um choque de realidade nesses dois primeiros dias.
Da – E o que achou da organização da prova?
Organizar esta prova é uma coisa muito complexa, um evento com 600 motos que dura seis dias, onde tudo tem que estar preparada com antecedência para que as pessoas possam caminhar nas especiais. Evento com cerimônia de abertura muito tradicional entre outras atividades. Penso que eles falharam em alguns pontos importantes, como segurança, muita decisão tomada em cima da hora.
Então, achei que foi um 6Days que pecou um pouco. Por outro lado, também teve coisas muito boas, como o parque fechado, ele era maravilhoso. A condição de clima atrapalhou todo mundo que teve que conviver com a chuva já no segundo dia de prova. Outro ponto positivo foi o acolhimento da cidade pelo evento. Como disse, tivemos falhas, mas também muitas coisas positivas, mas o mais importante é que o evento aconteceu.
Da -Os brasileiros tiveram dificuldades e lesões durante a semana. O que aconteceu com cada um deles?
Nossos pilotos todos tiveram muitas dificuldades, foram guerreiros e determinados. Vamos começar com o Bruno, nosso Capitão, ele torceu o joelho na primeiro dia Ele já tem uma lesão ali, mas bravamente ele encarou todos os dias com dor, com uma grande dificuldade em curvas à esquerda, porque ele tinha dor, e mais a insegurança de apoiar e saber que ele não podia apoiar.
O Joaquim fraturou a mão, e ele decidiu continuar na prova, fazendo gelo, tomando remédio, passando pomada, e completando a prova. O Calafati vinha bem, sofreu muito com o piso nos primeiros dias, pelo tipo das especiais, muito diferente das nossas, e acabou sofrendo uma queda lesionando a coxa, mas também continuou na prova. Já o Patrick teve um grande azar que foi um galho arrancar a fiação do estator, que no modelo da moto dele era um pouquinho mais aparente, se fosse 5 cm para o lado, não tinha acontecido nada, e ele foi muito guerreiro, tentou arrumar, chegou a ligar para o pai dele, que é um ótimo mecânico, para ver o que tinha que fazer com o telefone emprestado porque estava sem telefone. E conseguiu arrumar, só que arrumou acima do tempo que a gente podia, então, por isso teve que abandonar a prova.
Então, o 6Days tem muita coisa para dar errado, o que não falta é coisa para dar errado. É uma superação a cada dia, a cada limite, é muito intenso e pode acontecer muita coisa errada, afinal de contas, podemos contar com o azar nessa prova também.
Da – Na sua opinião, quais foram as maiores dificuldades dos brasileiro neste 6Days?
As nossas maiores dificuldades foram as lesões físicas, de 50% da equipe no primeiro dia, na primeira especial, e um acidente mecânico involuntário, que não foi um defeito da moto, não foi uma quebra da moto, foi realmente um acidente mecânica no segundo dia.
Penso também que temos que nos adequar mais ao modelo da prova, talvez precisamos mudar um pouco o modelo das nossas provas para contar com especiais mais próximas com o 6Days, mais longas, com curvas mais acentuadas, que se deterioram, um piso realmente estragado. Eu andei a pé. nas especiais no dia seguinte, é inacreditável o estrago que foi feito no chão.
Então, tivemos muitas dificuldades, a gente aprendeu muito. Tanto que depois da final da prova, já fizemos um primeiro bate-papo de avaliação, onde saíram muitas coisas importantes a serem realizadas e aprendidas. E uma grande vitória, que é a nossa convivência, o nosso entrosamento, e como fomos bem tratados na prova. É e uma coisa muito legal de ver o carinho que as outras pessoas, que as outras delegações, as outras seleções tem conosco. O Brasil é muito querido. Ser brasileiro é ser querido.
Da – E como foi o suporte da equipe estrangeira para a equipe brasileira?
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer o Crivilin, que foi um grande gestor dessa logística. No ano passado a logística foi 100% feito pela equipe Honda, na qual eu sou o chefe de equipe. Na Argentina, a gente levou muita coisa de nosso prórpio uso, como nossa gasolina. e nesse ano o gestor logístico foi o Bruno e ele tem muitas amizades aqui, ele tem muita credibilidade. Aqui ele tem muito respeito, muito carinho e nós fomos muito bem atendidos.
Um ponto a evoluir é acertar as motos antes, e uma coisa que deixou a gente feliz foi saber que as nossas motos no Brasil, estão superiores. Nós não tivemos tempo de trabalhar nas motos, nos acertos de moto, fora isso, o suporte foi muito profissional, e muito atencioso. Tudo funcionou, nada falhou. Só podemos agradecer a equipe, e mais uma vez fomos bem tratados e fizemos muitas amizades. Tivemos também o prazer de ajudar outras equipes, franceses, australianos entre outros, dividindo a água, a comida, o enduro é realmente uma grande família.
da- Além da equipe brasileira, o João Pedro também participou da prova na equipe FIM Latin América, na categoria Junior.
Ele foi um capítulo à parte. Ele é um piloto muito novo, vai ser o campeão Júnior no Brasil, já é matematicamente.
E ele fez um 6Days muito bom, impecável. Então, tivemos aqui mais um brasileiro se destacando junto com outros latino-americanos, que é um trabalho muito interessante da FIM Latin América, muito importante, e o desempenho dele foi excepcional. Fomos uma grande equipe, mesmo ele participando por outra equipe, nós também ajudamos, eles também ajudaram a gente, foi uma coisa só. Foi mais um grande aprendizado.
da – Como avalia a participação dos pilotos brasileiros na prova?
O 6Days é uma prova muito competitiva, muito dura, e estou muito orgulhoso dos meus meninos, muito orgulhoso dos nossos atletas. Muito feliz com a convivência que a gente teve aqui todos esses dias. Muito intensa e sem um arranhão, sem nada, só alegria, só coisa boa para a gente lembrar. Obrigado por todos aqueles que torceram por nós, a Honda, aos patrocinadores, à CBM, a Rôia da Importada e Borilli Racing, a Sherco, o nosso muito obrigado de coração.