GAMA SHERCO 2025
A evolução que a marca francesa tem sofrido ao longo destes últimos anos é assinalável e para 2025 não vai ser diferente. Uma armada profundamente atualizada e com um objectivo bem claro, tomar de assalto não só a competição, mas também a enorme franja de pilotos amadores ou simples amantes dos passeios de TT ao fim de semana.
POR: João Guedes FOTOS: Sherco
Foi junto à pitoresca vila de Savigny les Beaune, 200 km a norte de Lyon, que a Sherco apresentou à imprensa mundial a nova gama Enduro para 2025. No pavilhão onde decorreu a apresentação fomos brindados com a gama completa da Sherco exposta, num total de 20 modelos, aos quais se juntaram as mais recentes bicicletas eléctricas, bem como a moto de rally do Lorenzo Santolino, numa clara demonstração de força e vitalidade. 2025, uma nova era
Para 2025 a Sherco deu um passo de gigante na actualização dos seus modelos de enduro, depois de cerca de sete anos sem actualizações profundas na ciclística e plásticos. Toda a gama recebe agora um novo quadro, rodas completas (incluíndo cubos, eixos e discos, que se mantêm Galfer) e braço oscilante novo.
As suspensões mantêm-se as mesmas KYB, com forquilha de cartucho fechado à frente, mantendo assim a qualidade e eficácia que lhes são reconhecidas mundialmente. O guarda-lamas dianteiro e farol LED são os mesmos introduzidos em 2024 mas os restantes plásticos, incluindo o depósito de combustível, são novos. O depósito passa a ter uma sistema de encaixe e apoio diferentes, estes últimos de borracha que impedem qualquer contacto do depósito com o quadro para reduzir ao máximo a transmissão de vibrações. Nas 2T foi alterada a posição da torneira de combustível que passa a estar à esquerda. Em relação às 4T, temos uma nova bomba de combustível, mais compacta e eficiente na gestão da pressão do combustível.
O encaixe dos plásticos, que antes deixava um pouco a desejar, parece agora melhorado em todos os componentes.
O assento é também novo, mais plano e adopta um sistema de fixação mais convencional com dois parafusos na traseira. Isto porque o acesso ao filtro de ar passa a fazer-se por uma tampa do lado esquerdo e o filtro em si, adopta um encaixe tipo “cassete”. Há que dizer que à primeira vista estranhámos a estética dos novos plásticos e grafismos mas entretanto começámos a “entranhar” e, para isto, contribuiu a continuidade do farol e guarda-lamas dianteiro que se mantêm de 2024.
Com todas as alterações no assento e traseira, vem também uma nova arrumação do sistema eléctrico que é todo ele completamente novo, com um percurso mais simples e fácil entre a frente a traseira e com uma nova ficha OBD que elimina a necessidade de uma segunda ficha “shunt” (para transmitir energia à centralina, até 2024) e acessível pela tampa do filtro de ar dispensando assim desmontar a tampa lateral direita como anteriormente. As novas tampas do radiador apresentam um design que permite maior fluxo de ar. Ainda nos plásticos, e para mostrar a atenção que a Sherco deu ao feedback dos seus clientes, também as protecções plásticas dos radiadores são novas.
O computador de bordo mantém-se o mesmo, fornecido pela TrailTech, com indicação de velocidade instantânea, média e máxima, odómetro, dois trips parciais, relógio e “conta horas”, mas montado num novo apoio que o trás para uma posição mais elevada melhorando a 100% a sua visualização que antes era um problema. A acompanhar o novo sistema eléctrico vem um botão do corta-corrente e interruptor das luzes novos. O interruptor de arranque e dos mapas do motor mantém-se, tal como os punhos e o guiador Oxia.
Boas sensações
A Sherco disponibilizou para teste todos os sete modelos de enduro: 125 cc, 250 cc e 300 cc a 2T e a 250 cc, 300 cc, 450 cc e 500 cc a 4T. Abrimos as hostilidades aos comandos da 450 cc 4T e imediatamente sentimos o assento mais plano que nos pareceu ganhar um ou dos centímetros de altura trazendo uma ligeira folga ao triângulo guiador/assento/pousa-pés, tradicionalmente compacto nas Sherco.
Esta “evolução” traduziu-se num refinamento da posição de condução que anteriormente já nos parecia correcta. Aliada à manutenção das mesmas suspensões e motor (com novas afinações nas primeiras e algumas melhorias no segundo) sentimos que temos uma moto nova mas que nos é muito familiar. O motor 450 cc é muito generoso nos baixos/médios regimes, sempre muito cheio e com uma sonoridade incrível a sair da nova linha completa Akrapovič.
Todas as Sherco disponibilizam dois mapas de motor, “soft” e “hard” e a diferença entre ambos é notória.
Da parte da manhã o piso acusava ainda muito as chuvadas fortes dos dias anteriores, com uma especial de relva muito enlameada e escorregadia, o mesmo nas pedras da ligação de enduro.
Na especial alternámos entre os dois mapas e comprovámos a maior eficácia, e facilidade, quando usámos o mapa “soft” na lama, com a 450 cc a tracionar bem, para o que contribuiu uma entrega de binário muito redonda e o amortecedor KYB com as afinações desenvolvidas pela Technical Touch especialmente para a Sherco.
No percurso que fizemos notámos a facilidade com que aborda as pedras e degraus e o à vontade num percurso sinuoso e apertado. Não fosse a inércia do 450 cc e diríamos que era uma moto mais “pequena”. A travagem está ainda melhor da que conhecíamos, mantendo bom tacto mas com uma mordida mais incisiva e potente. As bombas e pinças mantêm-se as mesmas Brembo mas os discos Galfer são novos, mais perfurados que os anteriores.
Gama 2T
Saltámos a seguir para a 250 cc 2T, com a qual rodámos apenas na especial de relva. Muito
divertida e extremamente ligeira fazendo lembrar uma 150 cc ou 200 cc. Aquilo que há uns anos era muito criticado – o carburador – é porventura hoje um dos maiores argumentos de venda das 250/300 2T da Sherco. O carburador aliado à válvula de escape electrónica traduzem-se numa entrega muito redonda e cheia desde as rotações mais baixas, sempre progressiva e previsível.
Imediatamente a seguir experimentámos a 300 cc 2T. Tínhamos muita curiosidade com este modelo em particular por ser aquele com que já fizemos mais horas e também por ser a “best-seller” da marca. Neste modelo pudemos constatar a evolução francamente positiva para os novos modelos da Sherco.
Toda a disponibilidade a que este modelo nos habituou está lá, o motor pareceu-nos idêntico, com aquele “cantar” de um dois tempos mais rouco mas sempre limpo. Na especial gostámos do novo quadro, a transmitir uma sensação de “moto afinada e preparada” em vez de romper com o que já conhecíamos.
Depois de várias voltas na especial fomos com a 300 cc 2T à ligação de enduro e escusado será dizer que nenhuma subida nos incomodou, estas trezentos continuam umas autênticas trepadoras.
A ciclística comprovou a facilidade de inserção e estabilidade em curva e uma excelente leitura do terreno. A travagem está ao mais alto nível com o disco dianteiro de 260 mm a mostrar uma capacidade de travagem realmente impressionante, com muita potência mas com um excelente tacto que nos deixa travar muito forte sem nunca bloquear a roda e perder a direcção. Depois passámos para a pequena 125 cc, onde, naturalmente começámos por sentir a falta de disponibilidade em baixa, mal habituados com as anteriores 250 e 300 cc, mas com algum trabalho de embraiagem após alguns minutos já rodávamos a bom ritmo.
Como tudo na vida isto pode ser bom ou mau, uns gostarão do desafio e do trabalho com a mão esquerda, outros sentirão falta do binário e potência dos modelos de maior cilindrada. Com esta 125 cc não chegámos a rodar na especial, fomos directos para o percurso de enduro dentro da floresta. Na primeira parte, mais aberta e ensolarada, o piso estava excelente, com a 125 cc a mostrar ser dona de uma manobrabilidade e ligeireza impressionantes e, como partilha os componentes das maiores, acaba por ser a que mais gozo dá nas travagens.
4T poderosas
Depois da experiência com a pequena oitavo-de-litro, foi a vez de voltar à base para trocar por uma 500 cc. Não vale a pena acrescentar muito sobre a ciclística, partilhada com os restantes modelos, o que impressionou mesmo foi o motor. Muitas vezes ouve-se que “a 500 é como uma 450, mais redonda, e acaba por ser mais fácil”. Não parece ser o caso. É notoriamente mais poderosa que a 450 cc.
Obviamente a nossa ideia era testar esta moto num terreno mais aberto e conseguimos na subida mais longa que fizemos, já com uma pendente considerável, mas onde deu para sentir que se lhe dermos espaço passa num instantinho de bestial a besta. As curvas mais largas foram diversão pura com a roda traseira numa derrapagem muito controlada e progressiva visto que a entrega de potência, apesar de muita, se mantém redonda e é previsível. Ficou bem claro que a 500 cc poderá ser uma moto mais específica, para as planícies ou, eventualmente, para umas viagens ao deserto, notando-se menos polivalência quando comparada com a 450 cc. Por fim, tivemos ainda a oportunidade para testar a 300 cc 4T, o segundo modelo mais vendido da Sherco.
Este motor, totalmente redesenhado de raiz em 2023, traz para 2025 algumas melhorias onde se incluem novos apoios das árvores de cames que permitiram elevar o limite de rotação para às 14 000 rpm. Não é, ainda assim, um motor pontudo, é redondo e muito cheio, mas depois não pára, continua a fazer rotação sem se sentir nenhuma quebra na entrega, fazendo-nos esquecer que é um 300 cc e não 350 cc. Isto foi útil nesta especial de relva, bastante sinuosa, porque exigiu menos trabalho de caixa e resolveu todos os assuntos necessários com algum trabalho de embraiagem.
Nesta moto sentimos o mesmo que com as 250 e 300 2T, é o casamento perfeito entre motor e ciclística. A falta de travão motor aproxima a condução a uma 2T e nas mãos certas, será com certeza uma arma temível nos percursos mais sinuosos.
Depois de rodarmos com a 500 cc, esta não nos deixa a tremer quando abrimos o acelerador, o que não é necessariamente mau já que temos uma frente menos solta. Dos seis modelos que testámos, esta foi a que achamos mais equilibrada e polivalente, tanto para competir como para “passear” ao fim de semana.
Versões Racing
Para 2025 a Sherco decidiu re-introduzir a versão Racing (menos equipadas) das duas 300 cc. O objectivo por trás da versão Racing é disponibilizar, por um preço mais comedido, duas opções muito capazes. As diferenças são: grafismos Racing, forquilha KYB de cartucho aberto, guiador diferente, braço oscilante 2024, ausência de ventoinha, vaso de expansão do radiador e da protecção do motor, mesas de direcção fundidas (em vez de maquinadas), discos dianteiro e traseiro Racing, farol de halogéneo, pneus Mitas (em vez de Michelin) e escape SPES (em vez de Akrapovic) nas 4T.
Em conclusão, a gama de 2025, marca um momento importante na linha de Enduro Sherco, com uma nova geração que mantém todas as qualidades da geração anterior e deu um grande passo em frente na qualidade geral dos seus componentes. Os novos modelos começam a chegar ao nosso mercado já este mês, com um aumento de preço que deverá estar entre os 3% e 4%.