Honda NXR 650, a mãe de todas as Africa Twin
O ano de 1988 marca o lançamento da primeira Africa Twin, a Honda XRV 650, batizada internamente com a sigla RD03, motocicleta que surgiu no momento de máxima glória dos protótipos Honda NXR 750, que venceram consecutivamente o rali Paris-Dakar de 1986 a 1989.
A Honda XRV 650 Africa Twin foi obviamente inspirada nesta moto campeã tanto na aparência quanto na parte técnica, equipada com um motor de dois cilindros em V a 52º refrigerado a líquido, comando simples no cabeçote (SOHC), com três válvulas e duas velas por cilindro. A XRV 650 Africa Twin era um show de tecnologia, uma versão amansada da rainha dos desertos.
O peso a seco da XRV 650 era de 195 kg, a potência de 57 cv aos 8.000 rpm e o torque máximo de 6,2 kgf.m a 6.500 rpm, números razoáveis naquela época. A parte cicística também era destaque, com chassi tipo berço semi-duplo de tubos de aço de perfil retangular, com suspensão dianteira regulá- vel assim como a traseira, com sistema Pro-link ancorado a uma balança de de alumínio. Os freios eram a disco – 296 mm à frente com pinça de duplo pistão e 240 mm com pinça de pistão simples atrás.
O visual tinha no grande tanque, de 24 litros, seu ponto forte. Uma ampla carenagem de farol duplo, um forte protetor de cárter de alumínio e o escape, alto e colado na rabeta davam à esta Africa Twin pioneira um ar de moto de briga, complementado pelo o banco revestido de camurça azul como nas NXR 750 oficiais de fábrica. A pintura tricolor – branco, azul e vermelho –, as cores do HRC, denunciavam que o projeto tinha o dedo do departamento de competições da Honda.
A produção, limitada a 500 exemplares, se esgotou em um piscar de olhos. Nascia então uma “cult bike”, uma peça de coleção. Quem tem uma destas primeiras Africa Twin tem mais do que uma rara preciosidade, mas sim um verdadeiro pedaço da história das big-trails.
A Honda XRV 650 Africa Twin se mostrou tão competente que na edição do Paris-Dakar de 1989, 50 delas foram preparadas para encarar o rali com modificações mínimas, como tanque combustível majorado, suspensões e pneus reforçados, suporte de road-book e etc. A Honda France ofereceria assistência durante o rali e a grande quantidade de candidatos a adquirir o pacote obrigou a Honda a fazer uma pré-seleção para escolher os 50 felizardos que largariam no 11º Paris-Dakar.
18 das 50 Honda XRV 650 Africa Twin inscritas terminaram o rali, uma cifra importante visto a inexperiência da maioria dos participantes. De acordo com a cobertura jornalística da época, os abandonos ocorreram em sua maioria por fadiga dos pilotos e não por problemas técnicos. A XRV 650 Africa Twin melhor classificada chegou em 16º lugar na classificação geral, 1ª colocada na categoria Marathon, que não permite troca de componentes fundamentais como motor, chassi, suspensões e rodas durante a competição.
O sucesso nos desertos africanos de uma motocicleta originalmente projetada para uso turístico comprovou a competência do modelo e o acerto de seu nome de batismo, que deu origem à família Africa Twin, nome que é referência absoluta de moto big trail desde então.