Lançamento, CAN-AM Origin 35 kW

Para muitos de nós, Can-Am significa tudo menos motos de duas rodas, mas a verdade, é que a marca canadiana teve na sua gama motos de off road a 2T , mas já foi à quase quatro décadas. Agora, volta a apresentar propostas de duas rodas e vai mais além, são modelos 100% elétricos que prometem agitar as águas no mercado europeu. 

POR Domingos Janeiro  • Fotos Paulo Calisto

Não podemos negar que foi um choque (no bom sentido, é claro) quando vimos pela primeira vez os protótipos das novas motos de duas rodas da Can-Am, em 2023. Depois disso, tivemos a oportunidade de as ver na passada edição do Salão de Milão e depois, ainda mais de perto, na inauguração e comemoração dos 25 anos da Milfa (importador nacional das marcas do universo Bombardier). Imediatamente houve alguns detalhes que nos saltaram à vista como por exemplo o design, em particular o da trail Origin (modelo em destaque nestas páginas) e depois, a sensação de leveza do conjunto, quando nos sentámos na nova elétrica da Can-Am, mesmo parados. A qualidade dos acabamentos também são de encher o olho e os componentes, criteriosamente escolhidos, como as suspensões KYB, por exemplo, deixava-nos com água na boca para a poder testar. E esse momento, chegou agora!

Enquadramento

Para quem não conheça tão bem a marca, apenas deixar a nota que a Can-Am é uma das oito marcas que estão englobadas dentro da gigante Bombardier Recreational Products (BRP), ao lado de outras como a Rotax, Ski-Doo, Sea-Doo ou Manitou. Através destas marcas, a BRP produz motos de neve, motos de água, ATV, buggys, motos de três rodas e agora, o regresso às duas rodas. No caso das duas rodas, é preciso recuar quase 40 anos atrás, até à ultima vez que a marca canadiana teve estas disponíveis na sua gama (1972 a 1987, motos de off road a 2T).

Agora, em 2025 (e já com um ano de atraso face aos planos iniciais da marca sediada em Valcourt, Quebec), a nova geração da Can-Am de duas rodas, as elétricas, começam a chegar à Europa. Já é possível adquirir ambos os modelos, mas em território nacional, o importador da Can-Am, a Milfa, colocou primeiro em teste a versão trail, a Origin, que apresentamos nestas páginas. O preço estimado a pagar pela Origin, aponta aos 16 999€ e pode ser adquirida em duas versões, uma com motor de 35 kW, para carta A2 e outra, para carta B, com 11 kW e em três opções de cor: cinzento, preto ou branco. No caso do modelo que aqui apresentamos, acrescem cerca de 2000€ ao valor final, cortesia do equipamento extra como o para-brisas, luzes LED, logótipo e malas laterais. Através dos sistemas da “LinkQ Nano” podemos montar ou desmontar de forma rápida e muito prática uma ampla gama de acessórios especificamente desenvolvidos para este modelo.

Grandes argumentos

Era com grande expectativa que aguardava pela oportunidade de poder testar a nova Can-Am Origin e isto só pelo aspecto exterior da moto. O design é moderno mas muito sóbrio e elegante, com a escolha dos componentes a transmitir grande qualidade, robustez e fiabilidade. Os norte-americanos não brincam em serviço e por isso, até o esquema gráfico transmite qualidade.

 

Assim, nesta trail temos como destaque as suspensões totalmente ajustáveis e de alto curso da KYB (forquilha invertida de 43 mm com curso de 255 mm na frente e um amortecedor de montagem direta ao motor que também serve de monobraço, com 255 mm de curso), jantes de raios com 21” na frente e uma (monobraço) traseira de 18”, com pneus de tacos Dunlop D605. As dimensões impressionam por serem contidas, pois é estreita e a distância entre eixos não é demasiada (1503 mm). A altura do assento ao solo também nos deixa de imediato à vontade, porque falamos de apenas 865 mm. O peso fixa-se nuns interessantes 187 kg a cheio, que neste caso, naturalmente não contempla combustível, mas sim o líquido de refrigeração das baterias. O assento é plano, confortável, contribuindo para uma boa geometria de condução, para a qual também contribui o guiador largo e os pousa-pés também largos não têm qualquer revestimento de borracha, mas a verdade é que não necessitam porque é uma moto que não vibra. Em termos de prestações, contamos com cerca de 115 km de autonomia combinada, 4.3 segundos dos 0-100 km/h e 6 modos de condução (Eco, Rain, Normal, Sport, Off Road e Off Road+) personalizáveis, ABS desconectável na roda traseira, controlo de tração, travão motor e marcha atrás. A propulsão está a cargo de um motor elétrico Rotax de 35 kW/47 cv com 72 Nm de binário, bateria de 8.9 kWh com refrigeração líquida (que também serve de refrigeração ao motor, carregador – 6.6 kW – e conversor). A utilização de refrigeração líquida, como acontece nos automóveis, deixa a porta aberta a uma maior capacidade de evolução, face aos modelos convencionais. Regressando à tecnologia, a par dos seis modos de condução, temos ainda três níveis de entrega de potência, controlo de tração com quatro níveis de intervenção e opção de desligar por completo, ABS com dois níveis de intervenção, sistema de regeneração dupla (em qualquer modo, com nível máximo, mínimo e desligado) e marcha atrás. Também está incluído um painel TFT de 10.25” com conectividade (App BRP Go! mas apenas compatível com Apple CarPlay) e tomada de corrente, porta-luvas de 1.7 litros (onde podemos colocar os smartphones a carregar). Com cabo doméstico, recarrega a bateria entre os 20% e os 80% em apenas 50 minutos.

Talvez a melhor de sempre

Que me perdoem todas as marcas e modelos elétricos em que já andei e testei, mas esta Can-Am Origin é talvez a melhor moto elétrica em que já andei. Mas não é perfeita, claro. Em estrada notámos de imediato que a roda dianteira pesa mais que o normal, tornando as mudanças de direção mais lentas, assim como algumas reações. A transferência de peso na travagem ou aceleração é maior porque vamos mais altos e expostos. É quando pisamos a terra que a Origin se transforma e, quando ganhamos mais confiança e optamos por rodar no modo Off Road+, entramos numa nova dimensão que nunca antes havíamos experimentado. Para circular na terra, a regeneração passiva é mais aconselhada, porque é menos brusca.

No que toca aos modos, o Eco é ideal para uso urbano, podendo alcançar os 160 km de autonomia. Sente-se muito à vontade na cidade, onde se mostra muito ágil. O modo Sport é ideal para troços revirados de montanha, onde a Origin fica um autêntico “caça”, com uma capacidade de aceleração muito forte e limpa, sem quaisquer quebras de potência. Não podemos alterar o modo de condução em andamento, obrigando-nos a parar para fazer essa alteração. Para uso desportivo no asfalto a regeneração ativa é a mais aconselhada, pois podemos jogar com o travão motor para recarregar a bateria e não desgastar os travões. Ao fechar o punho do acelerador totalmente, produzimos um efeito de desaceleração tão forte que vicia: depois de habituados, quase nem tocamos nos travões e quando rodamos em terra, não se assustem se deixarem de acelerar e a roda traseira bloquear. Trava mesmo e isso vê-se até pela luz do travão traseiro, que no modo mais “potente” de regeneração acende cada vez que cortamos gás e rodamos o punho no sentido oposto ao natural. Os comandos colocados no punho esquerdo funcionam muito bem, de forma muito intuitiva.

CONCLUSÃO

Um novo ator entra na cena das motos elétricas com argumentos de peso e de sobra para conquistar aqueles utilizadores que procuram divertir-se de forma elétrica. O elevado preço é um ponto penalizador, mas está perfeitamente alinhado com o da concorrência. O design é muito atrativo, está carregada de tecnologia, possui baixo peso e um desempenho exepcional, que não é costume encontrarmos na categoria A2. Jovem, decomplicada, moderna, eficiente e muito divertida, é uma excelente aposta pelas sensações de condução puras, eficiente e dinâmica como poucas motos no seu segmento, repleta de novas sensações, altas prestações, racionais e pouco exigentes, que vão agradar a todos: tanto a utilizadores mais experientes como aos mais “rookies”.

Ficha técnica

CAN-AM ORIGIN 35 kW

Motor Rotax E-Power, refrig. líquida

Potência 47 cv pico máximo (35 kW) / 27 cv contínuos

Binário 72 Nm às 4600 rpm

Versão limitada A2 Sim

Vel. Máxima 129 km/h

Aceleração 4.3 segundos dos 0 aos 100 km/h

Bateria Integrada, Iões de Lítio

Capacidade 8.9 kWh

Refrigeração Por líquido: bateria, inversor e carregador integrado

Caixa Automática

Quadro Estrutura tubular em aço

Suspensão Dianteira Forquilha invertida KYB de Ø43 mm, ajustável, curso 255 mm

Suspensão Traseira Mono-amortecedor KYB, ajustável, curso 240 mm

Freio Dianteiro Disco 320 mm, pinças de dois pistões, ABS

Freio Traseiro Disco de 240 mm, pinça de um pistão, ABS

Pneu Dianteiro 90/90 – 21”

Pneu Traseiro 120/80 – 18”

Altura do Assento 865 mm

Peso 187 kg

Garantia 3 anos / 5 bateria

PVP Desde 16 999€

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